Temos acompanhado há pouco mais de três meses uma série de mobilizações no Chile em prol de uma educação pública e de qualidade. Essas mobilizações são resultado não só de uma educação precária, mas de todo um sistema político mercadológico e individualista e refletem o desgaste da sociedade chilena com o projeto político neoliberal implantado por Pinochet na ditadura militar. Ou seja, são resultados diretos de um período de terror em que era impossível travar um diálogo entre sociedade e governo.
A ditadura militar chilena acabou há 21 anos, mas seus resquícios ainda estão vivos, tanto nos projetos políticos quanto na truculência do Estado. No caso do Brasil não tem sido diferente, a cada manifestação popular enfrentamos uma repressão estatal sem pudor, além de vermos os projetos neoliberais se tornando cada vez mais intensos. Tudo isso tendo sempre o respaldo da grande mídia para declarar que houve excessos por parte dos trabalhadores indignados e as ‘autoridades’ tomaram as medidas necessárias.
Recentemente aconteceram uma série manifestações em Cuiabá contra a privatização da Sanecap, trabalhadores e estudantes foram às ruas exigir que continuasse a ser uma empresa pública e passasse a ter maior qualidade, porém nossos protestos foram plenamente ignorados e contra a vontade da maioria esmagadora da população, foi decidido que a Sanecap passaria a ser administrada e render lucros por organizações privadas.
Os trabalhadores da educação vêm reivindicando direitos importantes para a categoria, como a hora atividade para os professores interinos e um piso, extremamente rebaixado, de R$ 1.312,00. Porém os responsáveis por atender tais demandas simplesmente se negam a discutir minimamente com os trabalhadores, demonstrando assim, a sua faceta intransigente e autoritária. Portanto se faz necessária uma ação forte por parte dos trabalhadores para que sejam ouvidos, já que as mesas de negociações, que raramente acontecem, não colocam na discussão a verdadeira necessidade dos trabalhadores.
Vivemos em uma falsa democracia, mal temos a liberdade de manifestação e ainda somos barrados ao tentar entrar em prédios públicos onde a mensagem na porta é ‘Pode chegar a casa é sua’. Um diálogo entre sociedade e governo ainda é cheio de obstáculos, para não dizer impossível, pois mesmo quando o governador Silval Barbosa marcou uma reunião com representantes da categoria dos trabalhadores da educação ela não foi realizada porque ele se ausentou, além de declarar publicamente que não dialoga com os setores grevistas, tentando tirar a legitimidade de um dos instrumentos de luta mais fortes dos trabalhadores. Nos indagamos se vivemos realmente em uma democracia ou em uma ditadura velada (já quase escancarada) disfarçada pelos processos eleitorais.